Empresas aplicam muitos recursos para garantir que os dados de performance de seus sistemas sejam monitorados. Deming já citava: “Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende e não há sucesso no que não se gerencia”.
Porém medir de forma errada pode levar a consequências tão desastrosas quanto não medir nada. Neste artigo, comento de forma bem condensada como podemos melhorar a assertividade dos dados de performance ambientais em indústrias.
Tenha uma matriz com a especificação técnica
Dados ambientais são produtos de um sistema de gestão e como tais possuem certas características de qualidade que devem ser atendidas para que possam ser aceitos. Isto é especialmente importante para análises e dados ambientais.
Análises possuem erros intrínsecos que podem ser causados pelo método laboratorial utilizado, pela técnica de amostragem, pela conservação da amostra.
Uma matriz de especificação é muito importante para a definição do grau de qualidade que você espera que seus dados tenham. Se você não especificar, poderá receber um dado com uma qualidade duvidosa.
A matriz de especificação sempre é iniciada através da análise das obrigações legais que o empreendimento deverá cumprir. Nas obrigações legais constam as referências de padrões tecnológicos e de qualidade que deverão ser atendidos. Níveis mais restritivos de emissão exigirão métodos mais refinados de análise para garantir pequenos erros analíticos.
Uma boa matriz deverá prever os parâmetros que devem ser analisados, quais os níveis quantitativos que devem ser monitorados, os métodos analíticos ou de mensuração aceitos, os procedimentos de coleta e amostragem.
Além disso, deverá prever qual o desvio aceitável para uma mesma amostra encaminhada em dois ou mais laboratórios para cross check.
Estes procedimentos são aplicáveis para todos os parâmetros que devem ser monitorados na planta, desde emissões de efluentes, gases, ruídos e resíduos.
Recomenda-se sempre utilizar metodologias de manuais e normas técnicas aprovadas.
Defina frequências de monitoramento e calibração
A frequência de amostragem de qualquer processo deve seguir conceitos estatísticos. Muitas análises ambientais possuem um tempo de realização que pode ser longo de mais para a execução de uma medida corretiva, expondo o empreendedor a um risco operacional. Em outro mão, realizar múltiplas amostragens aumenta o custo de forma significativa e em processos estáveis pode não fazer muito sentido.
A condição de operação é no mínimo o cumprimento do padrão legal definido pelas condicionantes de monitoramento.
Sempre utilizamos como regra básica a condição de que processos instáveis (com grandes desvio padrão) devem possuir amostragem e análises mais frequentes. Como o recurso para fazer estes monitoramentos é limitado, priorize fazer mais amostragens nos processos que estejam mais próximos do limite legal e que tenham maior dispersão.
As práticas de amostragem simples e composta também devem ser aplicadas, porém cuide sempre com transientes de qualidade. Amostragens compostas tendem a mascarar este tipo de ocorrência, levando à falsas conclusões.
Verifique o cumprimento dos padrões de calibração estabelecidos na matriz de especificações. Erros por falha de calibração são mais comuns que você possa imaginar. Questione sempre o analista sobre os procedimentos de calibração e a rastreabilidade deste processo.
Determine padrões de aferição da qualidade de medida
Verifique com o laboratório as rotinas de aferição de qualidade. Faça isso regularmente, converse com o laboratório e solicite a documentação referenciada.
Sempre use laboratórios referenciados em rede de metrologia. Neste universo existem empresas fantásticas, com ótimas práticas laboratoriais e outras que não sejam adequadas.
Encaminhar a mesma amostra para diferentes laboratórios é pratica que deve ser aplicada regularmente e é aconselhável. Lembre-se entretanto, que sempre teremos diferenças entre resultados e a matriz de especificações deverá ser consultada para a tolerância aceita.
Aplicativos estatísticos como o Minitab ® permitem efetuar análise da qualidade de medidas e geram um incremento muito grande na assertividade e qualidade dos dados.
Utilize-se sempre de padrões alternativos de referência. Associe parâmetros que são correlacionáveis e verifique se o padrão comportamental é semelhante. Por exemplo, uma queda em DBO geralmente está associada a uma queda de DQO para um mesmo ponto e em um processo estável.
Desconfie de inconsistências entre parâmetros. Melhor refazer a análise, acompanhando as coletas do que tomar decisões erradas. Lembre-se da máxima em estatística: lixo entra, lixo sai (dado ruim na entrada, decisão ruim na saída).
Você pode utilizar a Inteligência Artificial para compreender padrões inadequados de análises e inconsistências e olhar para estes dados com mais calma e repetir as medições se necessário.
Garanta que as condições para a amostragem sejam cumpridas
Condições ambientais, diferente de muitos processos ambientais tem uma dinâmica onde a única certeza que temos é de que uma amostra coletada neste instante terá resultados diferentes de outra amostra coletada daqui 5 minutos.
A única forma de evitar dispersões entre amostragens e ter fidelidade de resultados é cumprir fielmente os procedimentos amostrais. Alguns procedimentos amostrais são tão críticos que tomam mais espaço referenciado que o próprio procedimento analítico.
Invista tempo estudando profundamente as características dos métodos amostrais e garanta que sejam plenamente entendidos pelo time que executará.
Amostragens em rios exigem uma avaliação perfeita da pluma de diluição em lançamentos, similarmente a amostragem de ruídos onde o ruído de fundo também deve ser avaliado.
Acompanhei em uma indústria, certa vez, um procedimento de avaliação de ruído. O decibelímetro acusou um limite superior ao limite de conforto acústico. Voltando ao mesmo local com a planta industrial parada o limite era ultrapassado devido outros empreendimentos próximos. Desta forma foi desenvolvido um projeto conjunto entre esta indústria, os seus vizinhos industriais e o órgão ambiental para a execução de medidas mitigadoras.
Padrão Operacional atualizado na área não é sinônimo de tarefa bem executada! O padrão é apenas um recurso para que a tarefa seja bem realizada. Um bom plano de treinamentos e provas de proficiência são muito importantes para o alcance de resultados consistentes nestas tarefas.
Estabeleça rotinas de checagem
Verificar no campo a execução das atividades associadas em uma frequência compatível com o nível de risco é algo que com certeza vai reduzir muito o risco de sustos e dados inadequados.
Tenha uma rotina bem definida de verificação de conformidade de cumprimento dos padrões mas também de aplicabilidade do padrão. Muitas vezes aplica-se um padrão com um procedimento desatualizado metodologicamente, o que pode gerar desvios importantes.
Sistematizar o controle e a qualidade dos dados ambientais é uma escolha que tem um impacto de custo insignificante na gestão ambiental de uma empresa, porém os benefícios associados vão muito além da confiabilidade do dado, passa por tomar decisões mais assertivas, redução do risco ambiental, minimização de custos operacionais e no aumento da competitividade do negócio.
Alexandre Mater é apaixonado pela transformação ambiental em negócios. Em mais de 20 anos ajudou empresas como Sadia, BRF, Consórcio Construtor Belo Monte a atingirem diferenciados patamares de performance. Liderou times globais na implantação de programas de excelência industrial, gestão, manutenção e de utilidades.