Veja neste artigo uma estratégia de classificação para os níveis de maturidade de gestão e aplique para ter uma percepção de onde você está nesta estrada.
Comparar atividades entre empresas geralmente é uma atividade complexa. Práticas que em alguns locais podem trazer resultados diferenciados, podem não fazer sentido em outras empresas. Quando a avaliação desloca para o tema ambiental, a complexidade aumenta, devido as relações e iterações que as práticas de gestão podem realizar.
Entretanto, ter estratificações (os chamados clusters) é interessante para uso determinar a maturidade da implantação da gestão e poder comparar, buscar práticas dentro do mesmo cluster ou nos clusters superiores.
Diversos estudos foram realizados com este objetivo e em nossa prática verificamos que é possível classificar os empreendimentos em uma taxonomia de cinco estágios.
O primeiro estágio são as empresas que não possuem programas ambientais, ou possuem programas que são restritos pelos seus orçamentos ou relações que os tornem impotentes. Um segundo estágio, são as organizações que possuem um pequeno staff que auxilia na resolução das crises e temas ambientais sob demanda. Empresas em um terceiro estágio, são aquelas que consideram que o máximo a ser feito é a prevenção de acidentes. No quarto estágio temos as empresas que possuem um corpo técnico (próprio ou terceirizado) no qual é dedicado tempo para gerenciar os problemas ambientais. No quinto estágio, as empresas possuem programas que se estendem por meio da corporação, educando os funcionários, monitorando continuamente e rápidos em resolução de problemas.
Podemos dizer que os dois primeiros estágios, são empresas que o foco está exclusivamente no controle, as empresas dos estágios 3 e 4 na prevenção e no quinto estágio, na proatividade. Podemos avaliar através de práticas cada um destes estágios de maturidade. Entretanto, será muito comum encontrar empresas que possuem práticas de diversos estágios e não de apenas um.
Primeiro Estágio: As empresas com gestão incipiente
Organizações que estão neste estágio são empresas que não possuem uma estrutura robusta para tratar do tema ambiental. São empresas onde geralmente não existe uma separação entre a equipe de gestão ambiental e a operação. São locais onde encontramos geralmente o supervisor de utilidades atuando na frente ambiental sozinho ou com alguns técnicos.
Em alguns casos, a empresa é pequena e não comporta a criação de uma equipe para meio ambiente. Entretanto as funções e responsabilidades ambientais do supervisor de utilidades (neste caso citado) deveriam estar claramente definidas e uma agenda, com as rotinas ambientais criadas. O que normalmente encontramos são empresas onde a atuação é efetuada sob demanda e aloca-se recursos sob necessidade.
Ops, está vencendo a licença… larga tudo e vai cuidar da renovação! Está acontecendo um evento ambiental… pega funcionários da fábrica e coloca eles para ajudar a resolver.
Algumas empresas até possuem algum plano de gestão ou mesmo um Plano de Atendimento a Emergências. Muitas lacunas ocorrem quando é necessário recurso financeiro para a execução deste plano, onde o gasto fixo é limitado por decisões administrativas.Complementar a este ponto, com este tipo de estruturação, encontramos muitos problemas de governança, pois a mesma pessoa que é responsável pela operação dos sistemas de controle é a pessoa que gera os dados de performance e de atendimento legal.
Segundo Estágio: temos um responsável!
Estas empresas possuem uma área (que as vezes é composta por um profissional) que responde pela gestão ambiental. Veja que usamos o termo “responde” pois é isso mesmo que ele faz. Responder pelo o que acontece na empresa em termos ambientais. Normalmente este profissional cuida especificamente da gestão burocrática ambiental, mantem as licenças e condicionantes em dia, preenche os formulários para destinação de resíduos e informa os relatórios de performance.
Não possui autonomia para definir a estratégia ambiental da organização e quando sinaliza necessidades de investimento depende da boa vontade da administração em colocar o recurso necessário. O orçamento é definido através de estimativa do número de pessoas necessárias e os custos associados para manutenção das atividades de suporte para atender o padrão legal. Geralmente é visto como “o cara do meio ambiente”. A atuação deste profissional é sob demanda, não existe nenhum tipo de antecipação ou proatividade. A cultura estabelecida é a de atendimento legal.
Encontramos geralmente nestas empresas a formação de duas polarizações: a produção, com suas metas e objetivos e o ambiental com objetivos separados. A cultura é: Produção faz, meio ambiente cuida… Em muitos casos, cuida muito bem! Os níveis de atendimento legais podem ser razoavelmente altos. Mas ainda é uma cultura de remediar.
Terceiro Estágio: Estamos prevenindo a poluição
Estas organizações entenderam que ficar remediando custa muito caro e é ineficiente. Desenvolveram times de eficiência para andar nas fábricas, entender onde são as maiores perdas e traçar mecanismos para controle antes de gerar o passivo. O foco aqui, está associado à custos, olhando inicialmente em pontos onde o impacto financeiro é maior, com recuperação do capital investido rápido.
Implantam metodologia lean, possuem times de eficiência energética e de prevenção da poluição. Começam a medir os consumos de água e energia dentro da planta, determinam fluxos de consumo, cargas poluentes dos processos e também utilizam o reuso e reciclo de água (mas com foco econômico).
Os times de meio ambiente são mais robustos e possuem autonomia para definir estratégias técnicas de como prevenir. Muitas empresas contratam metas específicas de eficiência no uso de recursos.
Quarto estágio: Entendendo o todo
Oportunidades de recuperação e de prevenção já não retornam mais tanto dinheiro como quando iniciamos. As grandes ineficiências praticamente desapareceram. Os projetos que antes tinham taxas de retorno bem altas, agora mal se pagam. Organizações neste estágio entendem que os projetos são de longo prazo e constroem relações e estratégias de sustentabilidade e risco para viabilizar projetos.
Gases de Efeito Estufa (GHG) aparecem na equação. Precificação de carbono também. É uma estratégia destas empresas investir em fontes renováveis de energia, não pela equação financeira, mas pela visão de sustentar a empresa nos próximos anos. Projetos de reuso de água saem do papel pela necessidade de redução da pegada hídrica da empresa. Os fatores de risco hídrico começam a fazer sentido e são tratados.
Aspectos como proteção de biomas também estão na equação.
A área que cuida da gestão ambiental possui uma autonomia grande, participando das estratégias da empresa. Seu orçamento está associado aos projetos que serão executados durante os próximos meses e não apenas ao tamanho do time. Neste nível são aplicados mecanismos para a gestão completa de indicadores e métricas de performance. Metas ambientais são conhecidas e contratadas em diversos níveis da corporação, não só dentro do time ambiental.
Quinto estágio: Senso de propósito
Todas empresas neste estágio possuem algo em comum. O senso de propósito da empresa encontra conexão com o propósito ambiental. São empresas que conseguiram revelar um propósito inspirador, que traz relevância para todos na empresa, mudando o mindset de todos. Funcionários são contagiados e conseguem entender que suas ações são reverberadas para além dos limites da empresa.
Empresas neste nível evolutivo convivem em comunidades que se apropriam da empresa e sustentam suas atividades. Até então, as comunidades suportavam a empresa, talvez pelos empregos gerados ou pela receita em impostos. São empresas que saem de um legado de uma gestão mecânica para uma organização com estrutura orgânica, cheias de vida e com potencial infinito. Estas empresas acreditam que o futuro será abundante, e gerador de riquezas.
Estas organizações utilizam-se de recursos tecnológicos para prever fatores futuros e antecipar movimentos antes da ocorrência. São empresas que possuem amplo domínio de seus dados, com coerência e amplitude. Traçam estratégias com o uso de inteligência artificial e se reconstroem continuamente.
Após ler este material, você pode estar pensando em como estruturar um modelo que o leve a um novo patamar. A tarefa é bastante complexa, reforçando que hoje a grande maioria das instituições falha em manter seus padrões legais em dia. Em alguns pontos também pode existir o questionamento se é algo sustentável financeiramente. Nossa experiência revela que o caminho pode ser completamente sustentável e ações que são realizadas em uma etapa reforçam o desenvolvimento da seguinte.
Por: Alexandre Mater
Founder Partner – Stride Inteligência Ambiental